Sistema autoimune pode ser “reiniciado” com terapia celular
Duas empresas de biotecnologia receberam aprovação do FDA para usar o tratamento de células T-CAR para tratar o LES e a nefrite lúpica
Um tratamento revolucionário para as neoplasias também pode ser capaz de tratar e redefinir o sistema imune, oferecendo remissão em longo prazo ou até mesmo curando certas doenças autoimunes. O tratamento a partir de células T com receptor de antígeno quimérico (T-CAR) é uma abordagem contra as neoplasias hematológicas disponível desde 2017, e agora há sinais preliminares de que possa ser usado nas doenças autoimunes mediadas por células B.
Em setembro de 2022, pesquisadores descreveram cinco pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) refratário que estavam em tratamento com células T-CAR e alcançaram a remissão da doença sem uso de medicamentos. No momento da publicação do estudo — 17 meses após o tratamento —, nenhum paciente havia recidivado. Os autores descreveram a soroconversão dos anticorpos antinucleares em dois pacientes acompanhados pelo período máximo do estudo, “indicando que a eliminação de clones autoimunes de células B pode levar a uma correção generalizada da autoimunidade”, escreveram.
Em outro estudo de caso , publicado em junho, os pesquisadores usaram células T-CAR direcionadas para o CD19 em um homem de 41 anos com síndrome de antissintetase refratária, miosite progressiva e doença pulmonar intersticial. Seis meses após o tratamento, não havia sinais de miosite na ressonância magnética e uma tomografia computadorizada de tórax mostrou regressão completa da alveolite.
Desde então, duas empresas de biotecnologia — Cabaletta Bio e Kyverna Therapeutics, ambas nos Estados Unidos — já receberam aprovação acelerada da Food and Drug Administration (FDA) dos EUA para usar o tratamento de células T-CAR para tratar o LES e a nefrite lúpica. A Bristol-Myers Squibb também está fazendo um ensaio clínico de fase 1 envolvendo pacientes com LES grave e refratário. Várias empresas de biotecnologia e hospitais na China também estão fazendo ensaios clínicos em indivíduos com LES. Mas esta é apenas a ponta do iceberg em relação aos tratamentos celulares das doenças autoimunes, disse o Dr. Max Konig, Ph.D., médico e professor assistente de medicina na divisão de reumatologia da Johns Hopkins University School of Medicine nos EUA.
“É um momento incrivelmente emocionante e sem precedentes na história da autoimunidade”, observou.
Uma ‘reinicialização’ do sistema imune
Os tratamentos direcionados às células B existem desde o início dos anos 2000, com medicamentos como o rituximabe, composto de anticorpos monoclonais que têm como alvo o CD20, um antígeno expresso na superfície das células B. As células T-CAR atualmente disponíveis têm como alvo outro antígeno de superfície, o CD19, e são um tratamento muito mais potente. Ambos são eficazes em esgotar as células B no sangue, mas as T-CAR direcionadas ao CD19 podem atingir as células B localizadas nos tecidos de uma forma que os tratamentos com anticorpos não podem, explicou Dr. Max.
A incapacidade de diferenciar as células imunes causadoras de doenças das células imunes protetoras é um problema para todos os medicamentos disponíveis atualmente para tratar as doenças autoimunes. Max.
Usar células T contendo RNA é uma nova tática para limitar os efeitos colaterais e a toxicidade do tratamento com T-CAR, disse o Dr. Chris Jewell, Ph.D., diretor científico da Cartesian Therapeutics, empresa de biotecnologia com sede nos EUA. O tratamento de T-CAR com RNA (T-CARr) — chamado DESCARTES-08 — está em ensaios clínicos de fase 2 para o tratamento da miastenia grave. Quando as T-CARr são infundidas nos pacientes, à medida que se dividem, o RNA decai naturalmente, explicou o pesquisador, o que significa que, após um certo ponto, o receptor do antígeno quimérico já não é mais expresso.
No ensaio clínico mais recente, os pacientes com miastenia grave receberam seis infusões ao longo de seis semanas e registraram importantes reduções na escala de gravidade da doença durante nove meses de acompanhamento.
Fonte: Medscape