Hospital Central de Maputo avança no modelo de excelência de gestão do CQH
Após muito acompanhamento e capacitação, instituição evoluiu e surpreendeu equipe do Programa na segunda avaliação
Faltando menos de seis meses para a conclusão do Projeto de Cooperação Técnica Trilateral “Fortalecimento de Capacidades em Gestão Hospitalar Visando Melhoria da Prestação de Serviços à Saúde da População”, o Hospital Central de Maputo (HCM), em Moçambique, apresentou resultados positivos e significativos.
Em junho de 2024, as voluntárias do Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH), mantido pela Associação Paulista de Medicina, Neusa Kyoko Uchiyama, Andrea Nascimento e Rosemeire Keiko Hangai, viajaram a Moçambique para realizar a segunda avaliação do Programa CQH no HCM – a primeira ocorreu em meados de junho de 2023.
“Nesta visita, percebemos que eles evoluíram muito no modelo de excelência de gestão do CQH. Os representantes das três áreas especializadas – Imagiologia, Unidade de Cuidados Intensivos – UTI Adulto e Neonatologia –, que vieram para o Brasil no ano passado, disseminaram o conhecimento para suas respectivas equipes. Ficamos satisfeitas com o que vimos. Até dezembro deste ano iremos acompanhar os itens que não estão tão evoluídos assim. Mesmo que o projeto trilateral não tenha continuidade, nós vamos continuar apoiando o HCM, porque se trata de um hospital inscrito no CQH”, destacou Neusa Kyoko Uchiyama.
Segundo ela, o Programa CQH está disponibilizando para os membros do hospital moçambicano inscrições para cursos curriculares. “É muito importante dar conhecimento às lideranças que vão fazer o modelo de gestão funcionar dentro de uma organização. Eles só precisam transformar isso na prática”, pontuou.
Neusa Kyoko acrescentou que o roteiro do CQH foi traduzido para os hospitais participantes em forma de questões, com objetivo de torná-lo mais palatável, facilitando o entendimento de todos. “Na essência, funciona da seguinte forma: o hospital faz a sua autoavaliação e o CQH envia seus avaliadores para a validação oficial. O HCM, por exemplo, está começando a entender o processo. Não focamos na pontuação, porque compreendemos que se trata de uma metodologia educativa, com a realização de encontros mensais, ensinamentos sobre práticas e explicações que o modelo prevê.”
A avaliadora Rosemeire Keiko Hangai, que também integra a Capacitação em Gestão de Clínicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, relatou sua experiência na visita ao HCM. “Fui para Moçambique sem grandes expectativas, mas ao chegar lá e me deparar com os resultados das áreas especializadas – Imagiologia, Unidade de Cuidados Intensivos – UTI Adulto e Neonatologia – fiquei emocionada. Foi acima do esperado, uma experiência incrível, porque a gente sabe que entender o processo do modelo de avaliação do CQH é o mais delicado para a instituição e lá tem muito a evoluir ainda. Não é fácil, ainda mais quando não faz parte da cultura deles. Por isso, o envolvimento da liderança no processo faz toda a diferença.”
Andrea Nascimento, que participou de três visitas a Moçambique (2022, 2023 e 2024) – diagnóstico, primeira e segunda avaliações – destacou que o CQH fez todo um acompanhamento com os membros do Hospital Central de Maputo. “Eles melhoraram muito, especialmente as áreas que receberam a capacitação. O mais bacana foi saber que quem respondeu às perguntas das avaliadoras foram pessoas diferentes da equipe treinada anteriormente – o que é muito bom, porque mostra que o conhecimento foi disseminado de forma assertiva.”
De acordo com ela, o HCM é muito grande, com 1.500 leitos (ou camas como são chamados) e inúmeras questões que precisam ser resolvidas. “Juntando tudo isso, a nossa expectativa era baixa, mas eles avançaram bastante e nos surpreenderam. Nós, do CQH, fizemos acompanhamento quinzenal com o time de lá e a atuação do Programa é muito didática – o que favorece muito.”
Andrea continuou dizendo que, após a divulgação dos resultados da segunda avaliação, será apresentado um cronograma para eles iniciarem o plano de ação do HCM. “Cada hospital tem a sua cultura institucional e a cultura do país. O modelo do CQH vai condicionando, dirigindo a organização, mas quem decide como fazer é a instituição. Temos a intenção de continuar com este acompanhamento após a conclusão do projeto trilateral, porque isso faz parte do nosso trabalho voluntário.”
Contexto
O Projeto de Cooperação Técnica Trilateral visa fortalecer o hospital institucionalmente, por meio da capacitação de seu corpo técnico em gestão hospitalar. É uma iniciativa implementada pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SESSP) e coordenada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), com envolvimento do Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH).
Melhoria da qualidade hospitalar por meio da implantação do Programa CQH no Hospital Central de Maputo; instalação de uma central de regulação; capacitação de gestores nas áreas de Imagiologia, Unidade de Cuidados Intensivos – UTI Adulto e Neonatologia; e contribuição na mudança da mentalidade em relação ao sistema de Saúde, tornando-o mais humano, inclusivo e público estão entre os quatro resultados principais da iniciativa.
O Projeto Moçambique surgiu de um convite de um dos diretores da JICA, que durante a sua vinda ao Brasil conheceu o Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar, se tornando mentor de um projeto de grande sucesso que implantou o CQH em um hospital da Guatemala. Desta forma, ao ir para Moçambique, procurou novamente o CQH e questionou se haveria a possibilidade de implantar o programa no país, de modo que alguns membros foram convidados a conhecer o sistema de saúde de lá.
Em 2021, grupo de voluntários especialistas em diagnóstico situacional do CQH – composto pelo coordenador do Programa CQH, Milton Osaki, Neusa Kyoko Uchiyama e Cibelle Naves – esteve em Moçambique para avaliar o sistema de saúde e especialmente o Hospital Central de Maputo. Após o diagnóstico, foi desenhado o projeto com o principal objetivo de implantar a metodologia CQH no Hospital Central de Maputo. Por se tratar do principal hospital-escola de Moçambique, o HCM teria ainda o compromisso de disseminar o modelo CQH para outras instituições hospitalares de lá.
“Entre os principais desafios está o modelo de Saúde moçambicano, que ainda está incipiente na descentralização, enquanto o Brasil já possui o Sistema Único de Saúde preparado e consolidado. Em Moçambique ainda estão se preparando para adentrar neste âmbito. Além disso, a mão de obra é restrita e há poucos médicos formados em comparação ao número de profissionais brasileiros na área. No entanto, as expectativas são de colher ótimos frutos”, pontuou Osaki.
Representantes do Governo de Moçambique estiveram no Brasil, em fevereiro de 2023, e participaram de uma intensiva capacitação no âmbito do projeto de cooperação técnica trilateral. A iniciativa serviu para fortalecer os membros do HCM e, posteriormente, compartilhar o conhecimento adquirido com outras instituições centrais de Moçambique, como Beira, Quelimane e Nampula.
Por fim, em setembro do mesmo ano, um grupo de gestores do Ministério da Saúde de Moçambique e do Hospital Central de Maputo esteve na sede da APM, em São Paulo, para conhecer as instalações do Programa CQH.