Hematologista analisa relação entre anticoncepcionais e trombose
O uso de métodos contraceptivos é essencial para garantir o planejamento familiar, bem-estar e autonomia das mulheres. No Brasil, um dos métodos mais utilizados para controle de natalidade são as pílulas anticoncepcionais à base de hormônios. Entretanto, muitas mulheres ainda possuem dúvidas quanto aos efeitos colaterais do uso de anticoncepcionais, em especial quanto a ocorrência de tromboses venosas, doença com complicações potencialmente graves e, em alguns casos, até fatais. Uma melhor compreensão deste risco é muito importante para a prevenção e promoção da saúde das mulheres. E a proximidade com o Dia Mundial da Trombose, 13 de outubro, é uma oportunidade para tratar do tema.
A trombose ocorre quando há a formação de um coágulo sanguíneo no organismo humano. As pílulas anticoncepcionais à base de estrogênio aumentam as chances de mulheres desenvolverem coágulos sanguíneos de duas a seis vezes mais do que aquelas que não fazem uso do medicamento. Segundo Erich de Paula, médico hematologista e professor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a presença do estrogênio na composição da maioria das pílulas anticoncepcionais é responsável por elevar o risco da ocorrência de trombose.
“O risco de trombose em mulheres jovens é muito baixo. Assim, mesmo com este aumento de duas a seis vezes, a chance de uma mulher que faz uso destes medicamentos desenvolver uma trombose é muito pequena. O que nós, médicos, devemos fazer – e a participação das pacientes neste processo é muito importante – é avaliar se a paciente possui outras características que aumentam o risco de trombose e, nestes casos, considerar o uso de outros métodos”, afirma Erich.
De acordo com o hematologista, as tromboses venosas geralmente ocorrem quando vários fatores de risco estão presentes na mesma pessoa, como obesidade e tabagismo. “Por este motivo, é muito importante que o uso de contraceptivos orais seja indicado e acompanhado por um médico. Os ginecologistas possuem informações sobre combinações de fatores de risco que tornam o uso dos estrógenos proibitivos, bem como a diferença de risco associada a diferentes pílulas”, diz.
Tipos de trombo
Segundo Erich, o tipo mais comum de trombose é a trombose venosa profunda (TVP), caracterizada pela formação do coágulo nas veias profundas localizadas nas pernas. “Este coágulo, também chamado de trombo, pode acabar se soltando e ‘viajar’ por meio da circulação sanguínea, atingindo os pulmões. Neste caso, ocorre a embolia pulmonar, uma das complicações mais graves da trombose, que em alguns casos pode até ser fatal”, alerta ele.
Além de discutirem o uso e realizarem o acompanhamento médico ginecológico regular para redução de riscos, mulheres que tomam contraceptivos orais à base de hormônios devem ficar atentas aos sintomas da doença, uma vez que o diagnóstico precoce de uma trombose é muito importante para reduzir o risco de suas complicações. “Cabe destacar que embora estejamos falando de mulheres em faixa etária relativamente jovem, a trombose pode acometer qualquer pessoa, independentemente do sexo e faixa etária. Por isso, é essencial que todos conheçam os primeiros sinais e fatores de risco para a trombose”, pontua Erich.
“No caso da TVP, os principais sintomas são inchaço, dor ou sensibilidade do membro afetado, bem como pele quente ao toque, vermelha ou descolorida. Já os sinais mais comuns de embolia pulmonar (EP) são dor no peito, dificuldade para respirar, tossir sangue e batimento cardíaco mais rápido que no normal”, destaca o especialista. Os fatores de risco incluem histórico familiar, imobilidade prolongada, obesidade, doenças cardíacas ou pulmonares e tabagismo.
Gestantes
De acordo com o médico hematologista, gestantes e mulheres que se encontram no período pós-parto também possuem risco elevado de desenvolver trombose. “Durante a gravidez, ocorre um aumento na coagulação como uma tentativa de diminuir a chance de perda de sangue durante o trabalho de parto”, esclarece.
A prevenção passa por manter um estilo de vida saudável, com controle de peso e prática de exercícios regulares. “O tratamento da trombose é feito com base no uso de anticoagulantes, sempre com acompanhamento médico. Por fim, é sempre importante ressaltar que ser proativo e ter conhecimento sobre os sintomas e fatores de risco pode auxiliar no diagnóstico mais rápido e preciso”, conclui Erich.