Estudo revela importância da linguagem usada para traduzir conhecimento médico para a sociedade
Médicos usaram termos buscados no Google para “remédios emagrecedores”
Uma pesquisa rápida no Google pelos termos “canetas emagrecedoras”, “remédios para emagrecer” e “medicamentos para perda de peso” retorna sete vezes mais resultados do a busca por expressões como “medicamentos antiobesidade” ou “medicação para tratamento da obesidade”. A mesma pesquisa em bancos de dados de saúde mostra uma inversão nessa proporção, retornando menos de 500 resultados para “medicamentos para perda de peso” e 19 mil resultados para “medicamentos antiobesidade”, por exemplo. Essa inversão indica uma lacuna entre a produção científica na área e o modo como o conhecimento gerado é traduzido para a população geral, especialmente por meio da divulgação na mídia leiga.
Buscando esclarecer a importância da linguagem referente ao tratamento da obesidade, médicos pesquisadores afiliados à Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e à Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) apresentaram um comunicado sobre o tema no Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia (CBAEM 2023), realizado entre os dias 6 e 9 de setembro. Baseado no estudo “Anti-obesity medications” or “medications to treat obesity” instead of “weight loss drugs” – An official statement of the Brazilian Association for the Study of Obesity and Metabolic Syndrome (Abeso) and the Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism (SBEM)”, o comunicado defende o abandono de expressões como “medicamentos para perda de peso” nas publicações científicas e, sobretudo, na mídia leiga.
“Em conjunto, acreditamos que o uso comum do termo ‘medicamentos para perda de peso’ pela mídia e pelo público em geral, bem como pelos médicos e pela comunidade científica, contribui para o estigma acerca da obesidade e que, certamente, a linguagem é importante”, disse ao Medscape o Dr. Paulo Augusto Carvalho Miranda, presidente da SBEM e um dos autores do estudo.
“Falar em medicamentos para perda de peso ou ‘emagrecedores’ é uma forma pejorativa de se referir a uma medicação profundamente estudada antes de ser lançada no mercado e aprovada pela agência reguladora para tratar uma doença, que se chama obesidade”, acrescentou outro autor do trabalho, o Dr. Márcio Mancini, vice-presidente do Departamento de Obesidade da SBEM.
Para além da semântica
Um recente artigo publicado no Medscape aborda a iniciativa de um grupo de 60 especialistas no tratamento clínico da obesidade de propor um novo nome para a obesidade. Segundo o líder do projeto: “A palavra é tão estigmatizada, com tantos mal-entendidos e percepções errôneas, que há quem diga que a única solução é mudar o nome”. Seguindo a mesma lógica, os autores do estudo brasileiro defendem que modificar a forma de referir-se aos medicamentos pode afetar a maneira como pacientes e profissionais de saúde percebem o tratamento e a prevenção da doença.
O primeiro passo, segundo o Dr. Paulo Augusto, é “lembrarmos que a forma com que nos referimos às pessoas, às doenças e aos tratamentos faz toda a diferença, principalmente em situações como a obesidade, que é uma doença estigmatizante e carregada de conceitos equivocados. Não se trata de mera questão semântica, mas de um esforço para reduzir o estigma relacionado ao tema”.
Segundo o Dr. Paulo, o principal objetivo do comunicado é destacar a singularidade da situação e a importância de ampliar o uso da expressão “medicamentos antiobesidade” e “medicamentos para tratar a obesidade”, como forma de combater o estigma e de aumentar a adesão terapêutica.
Fonte: Medscape